A lei de causa e efeito, ou lei do carma, pode ser sintetizada na conhecida frase "O homem colhe o que semeia". Segundo essa lei, as ações, os sentimentos e os pensamentos produzem efeitos que retornam a quem os gerou a curto, médio ou longo prazo. Assim, o que é vivido hoje determina o futuro e, por isso, em alguns idiomas pouco filosóficos costuma-se empregar a palavra destino para traduzir o termo sânscrito karma ou karman, embora ela não seja adequada, pois o termo sânscrito engloba conteúdos mais amplos, como, por exemplo, o impulso ao surgimento da moral.
Quem busca o caminho espiritual se dispõe à manifestação do bem, da verdade e da beleza no próprio ser e no universo. Contudo, a mais elevada expressão da harmonia intrínseca à vida requer plena liberdade, a soltura de todos os laços que ligam a consciência à matéria, mesmo os positivos. Para isso, é necessário mais que boas ações equilibradoras de atos negativos: é preciso neutralidade ao agir.
Na realidade, caminha-se para a verdadeira libertação não só praticando o bem e assim semeando futuro promissor, pois isso produz laços positivos. A libertação vem do desapego por tudo o que se faz, sente ou pensa. Embora essa condição marque uma adiantada etapa evolutiva, há quem se esforce para alcançá-la, apesar de o meio ambiente em geral instigar o envolvimento emocional e mental com o que se passa dentro e fora das pessoas.
Observa-se que a lei do carma visa ao contínuo progresso rumo à harmonia, sobretudo por meio do serviço ao bem universal, desinteressado de resultados. Para atingir tal meta, a via mais direta é essa neutralidade.
Quando a pessoa já não tem apego a nenhum ato, positivo ou negativo, pode transcender as ligações com os fatos e, portanto, com a lei do carma. A recomendação de "estar no mundo sem ser do mundo", feita por Jesus, sintetiza essa almejada situação.
A aranha cria seu universo sem se atar a ele, tece sua teia sem nela se enredar. Mas o homem, ao construir sua vida sobre a Terra, comumente mistura-se nela, apega-se ao que faz e cria. É como se estivesse preso em um aposento e uma pequenina vela fosse toda a luz de que dispõe. Vê de modo difuso e faz muitas experiências em sua tão querida prisão. Tece sua teia com pensamentos, sonhos, desejos e objetivos pessoais. Assim constrói a própria vida, mesmo não conseguindo ver o verdadeiro desenho desde sempre planejado para ela. Fica emaranhado nos fios.
Mas, em dado momento, esse tecelão ouve dentro de si a ordem de destruir sua amada teia. É quando começa a treinar o desapego, a desatar os laços antigos e a evitar a criação de ligações supérfluas. Ingressa por fim no caminho de retorno aos mundos de onde um dia partiu como pura consciência.
Extraído do Livro Além do Carma
págs: 17-20
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