Há dois níveis quando se fala de quotidiano: um é a habituação às coisas tal como elas se nos apresentam diariamente; o outro aspecto é a baixa vibração com que o quotidiano urbano normalmente se reveste.
Um relaciona-se com familiaridade, com a persistência de padrões que automaticamente estão ali e que nós reconhecemos, o outro aspecto é a vibração em aglomerados populacionais com milhões de habitantes, ser necessariamente uma vibração onde o Grande Coração em cada um de nós está em risco ou tem dificuldade em se exprimir.
Um dos pontos que nos ajuda é nós compreendermos o que é, em termos ocultos, um emissor e um receptor. A distinção em alquimia e em astrologia entre o Sol que é seminal, criador, emissor e a Lua que é receptiva, passiva.
Um dos pontos fundamentais é que, se nós somos seres marcados pelo amor, progressivamente vividos pela energia crística, passando por uma cumutação e percebendo, gota a gota, que estamos deixando de viver para ser vividos pela energia crística universal, e na proporção em que tu te permites que essa corrente te atravesse, em níveis reais, profundos, tu tornas-te um emissor, um criador ou um gerador. Tu tornas-te um autor energético e, portanto, um centro de poder que a sociedade como um todo não tem.
Num nível muito superficial de consciência onde acontece o consumismo, o mau uso do tempo, dos recursos, das relações entre as pessoas, neste nível a sociedade é yang e nós somos yin. Significa que numa malha de vibrações à superfície, se um indivíduo se deixa estar aí mais do que o estritamente necessário, não é possível integrar uma vivência esotérica no quotidiano. O ritmo da grande cidade, o poder do 7º Raio (Ordem, Pulsação, Cerimonial, Disciplina) imposto pelas grande cidades é avassalador.
Neste nível mais superficial eu sou puxado para lá e para cá, eu sou a Lua e a sociedade é o Sol, e tu terminas o dia exausto com a sensação que foste invadido mas não conseguiste fecundar a rede energética à tua volta. Foste manipulado, alterado, contaminado, marcado mas não conseguiste deixar o teu cunho nas várias cenas do filme ao longo do dia.
O ponto de partida de um acto criador constante sobre a sociedade à nossa volta passa por eu amar toda a luz que há em mim, e este amor constante ao que nós realmente somos, vai mudando o poder de um ser, vai-te tirando do nível superficial em que tu és uma Lua e a sociedade é um Sol, torna-te Sol no nível real, torna-te um gerador de vibração.
Se tu te consegues desencastrar da matriz dominante e te deixas descer à camada mais profunda da tua psique, tu entras em fase com a camada mais profunda de todas as pessoas à tua volta e o quotidiano sofre uma metamorfose.
Não é frequente as pessoas perseguirem uma figura como Francisco de Assis para lhe perguntarem qual é o melhor veneno para matar a principal família italiana, porque o campo vibratório não permite uma certa tonalidade do quotidiano. A carga psíquica dos acontecimentos é que muda, a gravidade psíquica altera-se, tu invocas nos teus irmãos exactamente a camada psíquica na qual tu estás em contacto. Isto é que é o serviço mundial. Tu crias, estimulas, denuncias, trazes à superfície nos teus irmãos a camada psíquica que está em fase com a camada psíquica (nível da alma) em que tu estás estável. Então, a metamorfose do quotidiano (a integração final entre a consciência interna e a consciência exterior) faz-se no profundo, em nós mesmos.
Como é que se integra a vivência esotérica no quotidiano? Pelo poder da quietude secreta, pelo poder da montanha interior, pelo poder do grande átomo de silêncio que há dentro de nós, pelo poder de nada desejar de forma superficial. As coisas neste momento têm de ser desejadas de uma maneira muito mais profunda.
Nesses níveis profundos de desejo, nesses níveis profundos da libido, nesses níveis profundos de apetite pela vida há tanta beleza, tanta verdade, tanta dignidade que os desejos sofrem uma metamorfose espiritual e, muito provavelmente, a médio prazo, a natureza do desejo transforma-se num desejo pela existência pura.
Fernão Capelo Gaivota dizia ao mestre:
– Eu quero voar muito rápido, eu gostaria de voar a 30 milhas/hora.
e o mestre perguntou:
– Porquê 30 milhas?
– Mas eu posso ir para além das 30 milhas?
– Claro que sim!
– Então eu quero voar a 200 milhas/hora.
– Porque é que paraste nas 200 milhas?
– Está bem, 700 milhas.
Existem 2 velocidades: cada vez mais rápido e a velocidade infinita em que tu estás aqui, desapareces daqui e apareces ali. Enquanto quiseres andar cada vez mais rápido o desejo não tem fim. No dia em que te preparares para a velocidade infinita, entras noutra lei, mas aí é o Cristo dentro de ti que vai fazer o milagre.
Quando se fala de quotidiano temos 2 vectores: familiaridade excessiva e baixa vibração. E temos um terceiro vector que é o excessivo dinamismo das grandes cidades – velocidade, cansaço, stress.
Estes 3 vectores aprisionam a consciência à superfície e toda a gente estimula o ego de toda a gente, mas não está a funcionar em termos históricos e sociais, então, se tu vais para essa camada mais profunda, tu estimulas a camada correspondente da outra pessoa.
A partir do momento em que te sentas no teu Trono e exerces uma autoridade espiritual sobre ti próprio, e te tornas dono das tuas vibrações, a forma como os outros reagem ao teu campo vibratório é um problema dos outros e os registos cármicos registam: “Este ser teve que sair da repartição pública onde trabalhava há 30 anos porque assumiu a sua vibração interna. Todos os outros deixaram de conseguir estar com ele. A rede electromagnética rompeu-se e a pessoa ficou sem trabalho”.
Como a lei do carma é extremamente exacta, se tu não podes estar num trabalho porque estás a assumir a tua vibração interna, não é mais um problema teu. Qual é o próximo trabalho que vais ter? É um problema da Hierarquia.
Assumir a sua vibração é falar de dentro para fora com a voz que vem do coração, timbrada, aquecida por uma consciência lúcida, com a mente clara, é olhar com o 3º olhar dos sábios, é não ter medo que os outros tenham medo de ti porque no fundo, eles estão apenas tendo medo da camada psíquica que tu estás estimulando neles, estão, portanto, com medo deles mesmos. Não ter relutância em ser um ser completo tanto quanto possível.
Quando um ser se senta e É, ele cura tudo à sua volta: empresas, transportes públicos, etc.. Vocês não esperem conseguir bem estar nesta cidade sendo mais um, nem sendo um especial, porque esses também estão mal. O indivíduo só se desloca nesta malha se ele cultivar a esfera, esse silêncio atómico dentro de si.
Existe uma zona dentro de nós que não está fechada, nem bloqueada, onde eu serenamente me sento em adoração ao Ser, em adoração a esta capacidade divina de “do não ser se ter passado ao Ser”, em adoração ao poder de o divino extrair de si o Ser. E o Ser é uma partícula filosófica tão ecléctica, tão abrangente, que não nos prende a nenhuma doutrina tradicional. Adoramos o Ser.
Como um adorador do Ser tu sentas-te e esperas que seja e quando tu esperas que seja, É e quando É, o Poder está instalado em ti. Não se trata do poder de acumular força prânica, força vital e depois dispará-la com “o próximo” numa discussão em que tu tens razão. Isso não existe, isso é impotência. Eu necessito passar para este fogo solar que é o Amor e o contentamento. Saber que sou um átomo cósmico indestrutível. Não há maior alegria do que isto. Alegria é quando um ser humano sabe que encontrou o caminho para Casa.
Como é que eu realizo isto? Que eu sou um átomo divino, maior, indestrutível, criado para o êxtase e a Alegria? SENTA-TE E SÊ
Porque é que este quotidiano dói? Porque é que este quotidiano não se consegue integrar na vivência do quotidiano?
Dói porque eu não preenchi o meu corpo astral com a vibração do Ser e a dúvida satânica original permanece, que é: “Será que eu sou amado, será que eu sou luz, ou será que eu sou trevas? Será que mereço existir?” A dúvida original acerca de si próprio é mais forte do que a vibração da mónada.
Esta dúvida em que nós sentimos que precisamos constantemente que alguém demonstre o valor que nós temos significa que o trabalho interno não está a ser feito. Claro que isto não é de um dia para o outro!
Mas é tão simples!? Se eu permito que a minha mente, que o meu veículo emocional seja inundado com o Ser, quando eu saio para a rua, eu aceito tudo o que me acontece. Eu não preciso do que me acontece para saber quem sou, nem para sentir o que sou, nem para me sentir bem a mim mesmo. Eu sou um Sol não sou uma Lua. Eu imprimo e não me deixo imprimir.
A integração da vivência espiritual no quotidiano, primeiro, implica vivência espiritual e essa vivência espiritual não é no quotidiano, é interno, é o oposto do quotidiano. Isto trabalha-se no parque, no quarto, na montanha, SÓ, fortalecendo o ser com o grande átomo do SER que há dentro de nós.
Cada um tem que encontrar a fórmula de quebrar o encantamento entre a experiência que temos de nós mesmos e esse acto. Eu preciso de encontrar uma fórmula de que aquela força desça sobre mim.
Uma das vantagens de Ser (de estar no Trono de si próprio) é que tu não estás mais em conflito com os teus defeitos nem estás mais apaixonado com as tuas qualidades, de forma que, se tens um defeito tu aceitas e, ao mesmo tempo, em vez de usares o problema como uma forma de esmagares a tua auto estima e ires parar outra vez à base da consciência, tu aceitas.
Todos os meus problemas têm um núcleo no vácuo, um anticristo, uma zona morta, um buraco negro. Esse buraco negro psíquico em torno do qual se começa a gerar um hábito compulsivo: álcool; drogas; agressividade; lidar mal com o espaço, com os outros, etc.. No centro há um pontinho negro a que pudemos chamar uma zona cega em torno da qual o problema se foi organizando.
As zonas cegas, os centros de gravidade em torno dos quais se organizam hábitos compulsivos, são zonas da nossa psique. O psiquismo é feito de substância universal, ele está, sobretudo, concentrado no coração e no centro da cabeça, vem de um reservatório cósmico que é a psique universal.
Existe uma psique universal arcaica e uma psique universal crística que é a história da alma do Universo e nós, os que ascendem, estamos em diversas topografias ao longo dessa ascensão da psique arcaica que se vai refinando em nós até uma fusão nessa psique crística superior. Isto é, uma parte da psique arcaica que atravessa o caminho estreito da consciência crística e depois entra no Reino de Deus (como uma ampulheta, só que no sentido ascendente).
Quando tu vives esse processo tu aumentas o poder da alma da humanidade passar pelo caminho estreito da ampulheta, para cima.
A substância da psique arcaica está ligada a eras de sistemas solares que já desapareceram. Isto é, na marca da nossa psique, que é feita de uma substância muito subtil, está a história de uma arqueologia cósmica profunda. A substância da alma é composta pela própria regência do Arcanjo Miguel (vida do Sol) doando parte da sua consciência à individuação de um ser. Na criação da nossa alma entra uma componente do Deus criador Micah, mas por uma questão de direito cósmico, na construção da nossa psique entra também a história universal onde estão implicados sistemas solares e planetas, alguns dos quais já se dissolveram, e um dos mais próximos é a Lua.
A Lua é um planeta que cumpriu a sua função, o kundalini planetário esgotou-se, tanto que ela não roda sobre o seu eixo. Assim como a Lua existem sistemas solares antigos que doaram a vibração psíquica para a construção da nossa alma e alguns, porque cumpriram as suas funções, estão-se a desfazer (a parte material) porque a parte essencial e espiritual ascendeu. Outros quadrantes doaram parte da vibração da nossa psique estão continuando o seu caminho de luz, mas esta herança dupla: por um lado a trama da alma é composta pela radiação de Michael (o espírito da nossa estrela), dito de outra maneira, nós temos um anjo dentro de nós que é a componente dourada da alma (é o anjo no eixo do ser). Na criação da nossa alma entra também camada psíquica universal que se vai tornar individual para cada um de nós, e essa tem uma história arcaica, o que significa que há zonas da psique que não se conseguiram abrir tão cedo à luz quanto as outras.
Os acidentes de regiões do universo que contribuíram para a criação da nossa psique geram psiques assimétricas, pontos que evoluem mais rápido do que outras, da mesma maneira que a erosão produzida pelo vento e pela areia produz uma história sobre as colunas de um templo grego. Isto é mesmo um problema de Deus!
Então, há pontos negros (que em astrologia está relacionado com Lilith) que resistem muito mais à força luminosa do consciente. Esses pontos mais obscuros que estão na psique profunda onde se organizam grande parte dos nossos problemas, porque eles são o vácuo, são o vazio, não têm luz, então vão acumulando vibração que, em termos electromagnéticos, não tem o aspecto integral a que nós chamamos “a luz de Metatron”. Ali ficam nódulos: alcoolismo; medos crónicos; fobias; ansiedades; utilização errada do poder; crueldade; agressividade; exaustão psíquica. A chave para chegar a esses sóis negros na nossa psique não está no consciente, é a mónada que pode chegar lá. Por isso é que nós distinguimos trabalho ético, moral e espiritual sobre nós mesmos, de transmutação produzida pela mónada.
Quando nós vamos para a rua temos muito que aprender com os outros, mas se eu vou nesse estado de majestade, carregado de uma vibração interna, a vibração da mónada ignora o consciente, passa pelo subliminar, entra no inconsciente profundo e lança uma flecha de luz no âmago de um complexo nódulo negro que vem da psique arcaica. Muitos dos nossos nódulos obscuros são colectivos, vêm de uma psique arcaica.
Enquanto que o ego e o consciente podem lidar com as arestas mais simples, os nódulos mais profundos são um assunto entre a mónada e a história da psique universal. É Deus que faz as trevas e é Deus que faz a santidade. Nós, enquanto livre arbítrio, fazemos uma pequenina parte do circuito.
Então a pergunta: “Como é que eu posso ser verdadeiro e compassivo ao mesmo tempo?”
Isto tem a ver com a dificuldade de dizer NÂO!
A verdade falada não é toda a verdade.
Toda a verdade implica:
– a verdade falada;
– a vibração com que tu dizes a verdade falada;
– a intenção com que tu usas essa verdade falada;
– as circunstâncias em que tu dizes a verdade falada.
Eu posso usar uma grande verdade e criar uma grande mentira. Uma grande verdade vibrada com a vibração errada não é a verdade, é só uma informação de verdade, mas não é a vibração.
Uma verdade dita com uma intenção que não é superior, não é uma verdade. Podem-se usar verdades para manipular os outros, porque se tu tens uma pessoa cuja psique tem um nódulo difícil de resolver numa certa área e se tu estás constantemente atirando essa verdade para cima da pessoa, tu não estás a dizer a verdade porque isso é horrível, se as outras verdades não estiverem incluídas, porque eu posso usar aquela verdade para enfraquecê-lo ainda mais.
Então, eu tenho que me responsabilizar pela verdade da verdade e é isso que se chama Compaixão.
Compaixão é quando eu me recuso a dizer a verdade se eu não tiver a verdade completa, que é a verdade: vibracional; da intenção; circunstancial e a verdade oculta no acto de trazer a verdade ao de cima.
Eu necessito guardar as verdades para mim e encontrar o terreno do amor em que uma verdade floresce em liberdade, é fecunda e nutritiva.
Então eu sou um Buda da Compaixão.
Por André Louro de Almeida 21/01/2005
Transcrição de Alice Jorge
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