A oração autêntica é um estado de receptividade e aspiração ao contato com energias supra-humanas. Pela oração o indivíduo invoca essas energias e afirma a disposição de unir-se a elas, no interior do ser.É instrumento poderoso, mas pouco se conhece sua efetividade, p que se deve, em parte, aos seres humanos sempre terem praticado a oração em favor de si mesmos e a estarem polarizados ao nível emocional. A oração que visa ao bem pessoal ou ao de ontrem é ação direcionada, tem objetivos humanos e por isso cria carma, enquanto a oração desinteressada é abertura incondicional, pura entrega de doação sincera a vontade do Consciência Suprema, que se espelha na vontade do eu interior.Mobiliza as energias do indivíduo e eleva-as ao nível intuitivo ou além.
Não engendra débitos cármicos, não cria vínculos nem o prende a circuitos de retribuição. Sua próprias energias são reunidas,ofertadas, e com elas a vida cósmica pode contar para sua mais pura manifestação. Portanto, na oração existe apenas a busca irrestrita da verdade . Construída no silêncio interior, alicerça-se na fé e na vigilância. Projeta-se no mundo externo como pacificação de desejos e de pensamentos e também como cessação de ações supérfluas. Mesmo sem saber e sem nada direcionar, o indivíduo em oração estimula transformações nos demais:irradia clareza e lucidez para a aura planetária. A oração é, pois, instrumento de serviço ao mundo e, para ser eficaz , deve nascer da humildade.Invisível, abnegada, é base para obras evolutivas.
Na condição atual da superfície da terra, é preciso indivíduos e grupos dedicados ao plano evolutivo cumprirem o papel de intermediários entre a luz da Hierarquia e a vida terrestre, pois transmutações intensas são requeridas para energias de mundos superiores penetrarem e agirem mais livremente nos níveis concretos . É possível cultivar esse estado mesmo durante atividades externas, doando-se ao que se apresenta como necessidade e oferecendo os frutos de empenho a Consciência Suprema.Essa é uma forma de oração ativa, em que se reconhece a presença divina em todas as coisas. A oração leva o indivíduo a descobrir e a compreender melhor o que de fato sustém a vida. Todavia, os que se dedicam atingir os graus mais elevados da oração, a união interior, precisam transcender a tendência de querer ao mesmo tempo conservar suas afeições,dado que esses dois movimentos não se coadunam. Algumas recomendações inspiradas nos escritos de santa teresa de Ávila(1515-1582) podem ser-lhes úteis:não pensar em outra coisa fora do foco da oração; despreocupar-se e desapegar-se de seus efeitos já que esses podem apresentar-se apenas posteriormente e dependem de fatores vários, até mesmo do preparo dos corpos externos do ser para receber energias mais potentes; não se importar com o que se vê ou ouve durante o recolhimento, mas buscar a solidão; reconhecer os próprios erros e dispor-se a supera-los; louvar e alegrar-se por se dedicar ao serviço impessoal num mundo que tanto carece dele; não abandonar a oração, por mais árido que se torne o terreno sobre o qual se caminha; não comparar o progresso que se faz com o obtido por outros; crer que tudo é para o bem de si mesmo e do universo; buscar luz para discernir se o que lhe chega provém do Alto ou é criação humana – e perseverar; não se preocupar com as inquietações ou distrações do pensamento; não olhar para os defeitos alheios, mas abrir-se para os seus serem transmutados; vencer a tendência de querer conduzir os demais, pois a transformação deles será ajudada pela irradiação daquilo que de elevado é despertado em si; lembrar que o exemplo atua mais que palavras ou qualquer artifício. Santa Teresa diz que o Senhor pode dar-nos entendimento instantâneo, sem precisarmos de raciocínio. Acrescenta, ainda, ser possível acontecer num instante o que não se conseguiu em muitos anos de trabalho consciente, com todas as diligências. Importante é prosseguir sempre , mesmo em fases de aridez. Tudo é para ser aceito como dádiva preciosa e os valores antigos devem ser substituídos por novos, cada vez mais impessoais e abrangentes.
Para chegar a oração autêntica e profunda, o indivíduo passa por várias etapas. Santa Teresa de Ávila as enumerou no LIVRO DA VIDA, CAMINHO DE PERFEIÇÃO CASTELO INTERIOR, conforme resumidas a seguir. São concomitantes , entretecem-se; há momentos em que aspectos de uma etapa se acentuam mais ou reaparecem quando se está sintonizado com patamares mais elevados.
Primeira etapa: O indivíduo deseja ter consciência da vida interior. De vez em quando se entrega ao ser interno, porém com ressalvas. Reflete sobre o almejado estado de alma pura, mas não detidamente. Ora busca a quietude, ora se distrai com os negócios e afazeres do mundo. Seu coração e sentimentos rendem-se com freqüência a interesses humanos. Nesse luta, procura libertar-se, embora se envolva com afetos, com o amor-próprio e com honras e se deixe facilmente vencer pelos sentidos. Nessa etapa necessita-se de intercessores, bem como de pedido de auxílio ao Mais Alto. Os dons naturais do indivíduo oferecem-lhe campo para aprofundamento e são meios de ele aproximar-se da interiorização. A mente participa de modo ativo do processo, seja de oração, seja de recolhimento silencioso, seja de reflexão. Transcende-se essa etapa quando se renuncia a tudo o que é supérfluo.
Segunda etapa: O indivíduo persiste e os progressos fazem-se perceber; todavia, não se sente ainda firme no Caminho. Começa a reconhecer os perigos e a afastar-se deles conscientemente . O chamado interno chega-lhe por intermédio de outros, leituras, também de doenças e sofrimentos. Tem início a purificação e o refinamento mais intenso dos corpos. Os assédios das forças adversas tornam-se freqüentes. A consciência apresenta-se mais ativa, e as faculdades mentais, mais hábeis. Ele sabe que fora desse caminho não encontrará o que procura; sua única esperança está no auxílio interno. Transcende-se essa etapa orando sem cessar. A oração incorpora-se ao ser e torna-se permanente quando há empenho, persistência e dedicação.
Terceira etapa: O indivíduo percebe estar sendo ajudado internamente a superar dificuldades. Mantém o autocontrole e emprega bem o tempo; realiza boas obras, é correto nas ações e tenciona não repetir erros. Contudo, quer muito a vida para doa-la por inteiro. Receia comprometimentos com o mundo, mas tem excesso de zelo por si mesmo; o amor ainda não o projetou além do ego humano. Assemelha-se a um viajante que, em vez de dirigir-se diretamente ao destino, vai parando nas hospedarias pelo trajeto. Adquire prontidão e obediência; consegue olhar mais as próprias falhas e menos as alheias, mas descobre gosto e prazer em ensinar os demais e assim acaba permanecendo muito tempo nesta fase. Transcende-a quando adquire humildade. Há um episodio bíblico que representa essa etapa (Mateus 19, -22): ‘’E eis que alguém, aproximando-se, lhe perguntou: Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas acerca do que é bom? Bom, só existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. E ele lhe perguntou: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra a teu pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Replicou-lhe o jovem; Tudo isso tenho observado; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me. Ouvindo essas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens’’.
Quarta etapa: O indivíduo está em um nível mais sutil da consciência, ao qual ao qual as forças involutivas têm menos acesso; embora o assédio delas seja grande, são transformadas pelo espírito, acarretando mais benefícios que danos. Nessa etapa o raciocínio e os projetos pessoais têm pouco valor, o amor transforma-os em obras. O indivíduo ainda pensa em si , gosta de analisar o próprio desenvolvimento. Sua parte sensitiva começa a aquietar-se, não se preocupa tanto com provas nem com fatos desconcertantes. Mesmo que seus corpos sejam de algum modo perturbados, mantém-se na paz interior. Reconhece que os obstáculos estão dentro de si e não fora. Persiste sem maiores fantasias; entretanto, esforços pessoais não surtem mais efeito. Percebe uma construção interna sendo empreendida. Os sentidos e o mundo material vão perdendo o domínio sobre ele. Reconhece as fraquezas que tem e quer a todo custo atender ao chamado de voltar-se para o seu centro e lá permanecer. As faculdades humanas respondem a esse chamado, abandonam o interesse por fatos exteriores e mergulham no mundo interior. A consciência é suavemente conduzida a recolher-se, a concentrar-se em coisas elevadas, a renunciar ao mundo e as vaidades; o indivíduo tem vontade de servir e, quando não a pode satisfazer, seu desejo aumenta. Deixa-se abandonar então n’Aquele que o guia, sem se preocupar com compensações; a mente é permeada por uma luz superior, que a eleva; a consciência não fica atada, como antes, as formalidades do serviço espiritual e avança com mais liberdade. Perde o temor, progride nas virtudes, vai-se afastando dos gostos do mundo. Nesse etapa, técnicas para facilitar a interiorização e a oração trazer mais dano que proveito. É mais indicado o indivíduo lembrar-se do supremo e esquecer-se de sim mesmo. A consciência ainda não está formada nas leis do espírito, mas guarda-se das ocasiões capazes de desvia-la. A alma já pode produzir bons frutos. Nesse fase, ‘’quem menos pensa menos quer fazer, mais faz’’.
Quinta etapa: A essa fase muitos chegam, mas poucos são agraciados por ela de maneira especial. Não há no indivíduo a mínima reserva de entregar-se por inteiro ao supremo. Muitos podem ter condições de manter a disciplina externa para orar nesse nível, mas para chegarem as virtudes internas características dessa fase não são tantos os preparados. A consciência se expande, mas o indivíduo não entende como, nem sabe o que deseja realmente. As piores impurezas humanas desaparecem, porém as menores e mesquinhas persistem. As distrações advindas da mente, tais como a imaginação e pensamentos errantes continuam, mas não chegam a perturba-lo. A mente, em quietude, nada vê, nada ouve, nada entende. A duração da união interna consciente é breve, mas faz-se sentir de modo indubitável. A quietude prolonga-se por períodos maiores. O indivíduo não dá mais valor as obras que realizou em outros tempos; é como borboleta que voa, liberta do antigo casulo. Sente pesar por sua oração não ser completa. A oração torna-se livre de fórmulas. A consciência reconhece sua aliança com o mundo interno; são-lhe concedidos encontros com o ser interior, embora forças involutivas procurem impedi-los. Nesse conjuntura, a paz e a alegria provindas desses encontros são reais, irreal é o contentamento por coisas da matéria. Sabe que as forças involutivas produzem estados ilusórios de união, cujos efeitos mais degeneram que elevam, e não se deixa levar por elas. Nessa etapa,percebe com lucidez não existir segurança neste mundo - haja vista Judas que, apesar de caminhar de caminhar ao lado de Cristo e seus discípulos, os traiu.
Sexta etapa: A consciência, purificada, fica diante da própria limitação e miséria, intenso é o sofrimento.É levada a entregar-se totalmente, pois vê que por si só nada vale. Na dor encontra o mesmo que antes encontrava na alegria. Decide padecer pela lei e apartar-se do mundo comum Tem lampejos que lhe trazem equilíbrio, como se o ser profundo lhe dissesse: ‘’Não te aflijas, sou eu, nada temas’’. A consciência nunca esteve tão atenta a vida interna, jamais teve tanta luz, porém vislumbra mistérios ainda irrevelados. O que conhece é por experiência direta, e não dá valor a outros meios. A Terra não lhe parece a mesma, vive em divino amor. Deseja nunca mais errar. Dádivas oferecidas a alma nessa fase: ciência da grandeza da Lei, autoconhecimento, humildade, indiferença por tudo o que é material. É levada a evitar especialmente a angústia, bem como felicidade e deleite excessivos.
Sétima etapa: A graça recebida começa a ser compreensível, embora não intelectualmente. O indivíduo percebe que a grandiosidade da Vida não tem limites; está diante de uma tríade de energias e vê que as três são uma só. Imensa é a clareza que emerge em seu ser perante essa Presença. Todavia, tal experiência de plenitude é temporária, e só se tornará permanente quando a alma for absorvida por inteiro pelo espírito. Há considerável distância entre essa etapa e as anteriores; aqui é como se a alma em sua maior parte fosse espírito. O indivíduo vê que nas fases anteriores há muitas interferências e que nesta nenhuma força involutiva pode atuar. A consciência está desperta onde a alma se expressa em plenitude. Mesmo que nos corpos haja desequilíbrio e dor, nesse nível o ser é são. A quietude é quase contínua. Ele sente o sofrimento dos que se perdem. Após essa etapa, um portal haverá de ser cruzado pela consciência, que então ingressará em novo caminho, o do espírito.
Extraído do livro Glossário Esotérico
páginas 330-333
Downlaod do Glossário: http://www.4shared.com/document/uClEzai4/1994-Glossrio_Esotrico.html?
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