Algumas pessoas consideram o tema de que só é possível meditar de barriga cheia. Dizem que a pessoa que está na luta, a procura do que chamam “um lugar ao sol” não tem tempo a perder com a busca interior. Dizem ainda que a concentração é difícil quando é preciso preocupar-se em colocar a comida no prato, seu e dos que estejam próximos. Parece que preciso contestar isto. E tem dois pontos a analisar. Um é que as igrejas estão cheias de gente, e o outro que a condição mental é mais importante que a condição financeira.
Em geral os que procuram a chamada espiritualidade são aquelas pessoas que não conseguiram atingir seus objetivos de vida, ou que sofreram com perdas, com desenganos, etc. Mas estas são as pessoas que menos resultados vão conseguir, pois uma coisa é buscar conforto ou a cura emocional e outra coisa é a realização espiritual. Disto as pessoas não falam e não entendem. Então estas pessoas buscam as igrejas, quando são pobres espiritualmente, porque assim pensam que haverá a possibilidade de algum ser, que se diga intermediário de um deus ou de deuses, possa retirar-lhe do estado miserável que este mesmo deus a colocou. Um paradoxo... Mas não vamos querer entender a lógica teológica neste momento, senão fugiremos do tema proposto para este tópico.
Alguns me dizem, então, que só aqueles que podem sentar-se e contemplar a natureza ou que tenham tempo para ficar boquiabertos sentindo o passar do tempo e de barriga cheia podem dedicar-se a uma busca espiritual e que estas coisas da inquietude interna não servem para os simples. Bem, então eu mesmo não estaria enchendo estas linhas com estas palavras, porque também me preocupo com isto, haja vista que não disponho de provimentos para sentar-me sobre eles enquanto a linha do tempo físico e humano corre...
Acho, inclusive, se acompanham o meu raciocínio, que as pessoas com mais poder aquisitivo são justamente as que tem maior dificuldade em sentarem-se, sós, e tentarem contemplar a si mesmas. As distrações que tem a disposição são bem maiores e a retiram do seu contato intimo. Então tem o carro, a casa, a viagem, a televisão, os negócios... Enfim, toda sorte de possíveis atividades externas que prendem sua atenção e sua vontade e não a permitem obter um contato intimo com o centro de si mesmas. Sim, este é o objetivo das tentativas de meditação, atingir o centro de si mesmo, entender os processos mentais, emocionais, mas não de forma consciente, apenas afrouxá-los e deixar que eles se dissolvam de maneira natural.
Mas analisando o parágrafo acima, podemos notar que falamos de coisas externas, aquilo que as pessoas almejam, querem, desejam. Então vemos que não importa quanto dinheiro se disponha para satisfazer a estas necessidades, pois cada um tem seus próprios meios de fugir do encontro interno. Basta ver a TV, o álcool, as festas e tudo o que a sociedade normalmente aponta como sendo mecanismos de controle social, mecanismos com os quais colocam determinados entretenimentos para que o cidadão possa extravasar seus sentimentos de inferioridade ou de culpas e viver conforme é preciso. Mas isto acontece em qualquer classe, não importa se a pessoa é rica ou pobre. A perda da consciência acontece em todas as classes. E não importa a formação intelectual, porque até mesmo um grande entendido de determinada área de estudo formal pode ser ignorante total de como realmente os processos de sua ciência funcionem. Podemos ver isto nas modificações que ocorrem da noite para o dia dos chamados paradigmas ou as teorias aceitas. Será que estas pessoas, alguma vez na vida, chegaram a pensar por si mesmas nos problemas que creem ter as soluções?
As questões do pensamento, da mente, e da maneira como aceitamos o mundo é que podem gerar estes sentimentos de separatismo, de impossibilidade de realizar alguma coisa e que podemos ser coitados da historia.
Quando realmente voltamos ou aceitamos voltar para dentro de nos mesmos e deixamos que o espelho da alma mostre quem verdadeiramente temos sido ou como somos, aí encontramos o verdadeiro problema. E é por este fato, do confronto entre o que temos sido com o que deveríamos ser o real problema que impede as pessoas quererem ver a si mesmas através do seu espelho interno. Por isto que é difícil parar, sentar, ficar em silêncio, porque este desespero aparece quando de fato não sabemos quem somos, quando desesperadamente nos envolvemos com coisas, pessoas ou situações apenas para fugir daquilo que somos ou que deveríamos ser.
Depois que este terror desaparece, a pessoa começa a viver algo que acho incrivelmente grandioso, que é a verdade. Começa a manifestar sua verdadeira face. Não é fácil, realmente, rever opções erradas, reavaliar situações, mas esta é a verdadeira cura e libertação. Nenhum projeto social ou político pode ser tão transformador, tão revolucionário como viver a verdade.
Fonte: http://conversandosobremointian.blogspot.com.br/
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