Palestra proferida por Radha Burnier (presidente Internacional
da Sociedade Teosófica) em 1° de agosto de 1998, no Habitat Centre,
Nova Delhi, como parte de uma série de palestras sobre Credos para um
Novo Milênio, organizada pela Fundação para a Responsabilidade
Universal, do Dalai Lama. Extraído da revista The Theosophist, setembro
1998.
Qual é o propósito de nossas vidas? É simplesmente comer, dormir, divertir-se, procriar, lutar e morrer? Se for assim, dificilmente é humano, porque todas as criaturas inferiores fazem o mesmo. Elas vivem despreocupadamente e agem de acordo com os desígnios da Natureza, e o fazem com inocência, graça e beleza. Os seres humanos, vivendo este tipo de vida fisicamente centrada e agindo conscientemente por motivos egoístas, dando manifestação organizada a sua crueldade e cobiça, poluem a Terra com o mal e introduzem um elemento de feiúra nas operações da Natureza. Diz-se que o mal existe somente no nível da mente humana, porque reconhecidamente é aí que o dano é feito, e o egoísmo praticado obstinadamente.
Infelizmente poucas pessoas ponderam sobre o propósito de suas próprias vidas e da vida em geral. Muitos homens e mulheres vivem mecânica e irrefletidamente, simplesmente se adaptando aos propósitos e sistemas de seu ambiente, tornando o prazer físico e a satisfação egoísta o centro de suas atividades. As religiões e os livros sagrados têm tentado chamar a atenção para os propósitos mais profundos da vida, mas de uma maneira tão confusa que o seu impacto termina sendo muito vago. Os dogmas, as injunções e tradições em diversos assuntos irrelevantes à essência das questões da vida religiosa estão misturados com os conselhos sobre a vida superior. Neste caso, uma coisa é receber conselho em tais assuntos, e outra é investigar seriamente por si mesmo o sentido e o propósito da vida.
A qualidade da vida de uma pessoa muda quando o impulso para conhecer a verdade é sentido profundamente. Por milênios não houve mudança essencial na sociedade, porque geralmente as pessoas ouvem apenas mecanicamente os ensinamentos religiosos. As condições externas mudaram, mas não mudou o psiquismo da Humanidade, com suas cobiças, seus rancores, apegos e agressões. Pois para haver mudança, a vida dos sentidos e a busca por excitamentos mentais deve realmente morrer e ser substituída por um anseio de compreender e descobrir em primeira mão a verdade sobre a vida. O singelo poema de William Blake de Canções de Inocência nos desperta para as perguntas pelas quais cada forma de vida nos confronta:
Cordeirinho, quem te fez?
Conheces quem te fez?
Quem te deu vida e mandou alimento,
Pelo córrego e pelo prado;
Quem te deu roupas de beleza.
Roupas muito suaves, claras e quentes;
Quem te deu esta voz terna
Que faz os vales todos exultarem?
Cordeirinho, quem te fez?
Conheces quem te fez?
Da mesma forma, referindo-se ao tigre feroz, Blake pergunta: "Aquele que fez o cordeiro, também te fez?" (Canções de Experiência).
Por incontáveis meios a Natureza exibe milagres a cada minuto. Cada criatura, grande ou pequena, é provida do que necessita, da lã para mantê-la quente, ou da habilidade para construir um ninho. E fácil desconsiderar as miríades de maravilhas do corpo e da mente, atribuindo tudo aos genes. Mas como os genes tornaram-se tão inteligentes? Há uma inteligência universal, um supremo amor trabalhando, moldando e movimentando todas as coisas em direção a um fim maior?
Visto que a mente humana é capaz de elaborar estas perguntas, devemos considerá-las seriamente ao respondê-las. Devemos ser compelidos interiormente a indagar por que idéias de justiça, beleza e verdade têm tido importância na cultura e consciência humanas, mesmo que não tenham nada a ver com a luta pela sobrevivência, que é dito caracterizar o processo de evolução. Em todas as épocas, homens e mulheres sofreram torturas por dedicarem suas vidas à verdade. Por que estes poucos destemidos em sua lealdade à verdade, os que trilharam a senda da honradez ou trouxeram informações de uma beleza transcendental a este mundo são respeitados acima do resto da Humanidade, mesmo por aqueles que egoisticamente buscam seus próprios fins? Certamente porque apesar das pressões às quais foram submetidos, as pessoas compreendem, pelas vidas das almas puras e nobres, que a verdade tem um poder transformador. Disse Jesus, em João 8:32 "Vocês conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará..."
Satyât nâsti paro Dharma "Não há religião superior à verdade" era o antigo lema da família de Kasi, ou Varanasi, também escolhido por seus fundadores como lema da Sociedade Teosófica. Isto sugere que o genuíno progresso está relacionado com a busca da verdade. A busca de objetivos menores, principalmente de riqueza e prazer, Artha e Kama, embora compreensíveis e aceitáveis, quando dentro de limites razoáveis, com uma noção de responsabilidade social ou Dharma - resultam na degeneração do mundo, que é o que estamos testemunhando. Somente pela descoberta do mais profundo significado da vida e do propósito cósmico subjacente no mundo manifestado, pode a natureza humana elevar-se a sua destinada dignidade.
O que é a verdade? A maioria das pessoas acredita que a verdade é tão abstrata e remota que não pode ser uma preocupação séria para a média das pessoas. Sob este ponto de vista, o assunto é mais bem tratado por filósofos e especialistas. Como escreveu Francis Bacon: "O que é a verdade? disse ao imitar Pilatos, e não esperando uma resposta." (Ensaio Sobre a Verdade) Isto é o que as pessoas gostam de fazer - afastar-se do debate. Mesmo assim, aprender a contestar é de importância suprema para a Humanidade, e está intimamente ligado ao fato de tratar com sabedoria os problemas e as obrigações diárias. A clássica metáfora da cobra e da corda ensina que o pensamento e a ação mudam completamente de acordo com o que a pessoa vê. Aceitamos como verdadeiro o que conhecemos e vemos, mas não inquirimos se realmente vemos e conhecemos o que existe. Mesmo a forma material, a estrutura e a substância dos objetos que nos cercam, não é o que pensamos que seja, porque nossos sentidos têm grandes limitações. Ainda assim, rapidamente fazemos julgamentos e pensamos conhecer a verdade das coisas. A enfermidade da certeza domina nossas mentes, e logo se torna dogmatismo, fanatismo e intolerância.
O dogmatismo e autoritarismo das igrejas começam a desintegrar-se com o desenvolvimento da ciência, cujo objetivo é a verdade. O desenvolvimento científico depende da não submissão a uma autoridade final - Newton, Einstein ou outro - e o não se aferrar dogmaticamente a qualquer ponto de vista. O trabalho científico é baseado em observação imparcial, repetidos testes e experimentos, pensamento objetivo (impessoal) e vontade de revisar cada teoria à luz de fatos e observações novas. Esta atitude é imprescindível para o progresso - não apenas no campo material, mas para a investigação da verdade em qualquer nível.
Infelizmente, a comunidade científica tem se mostrado cautelosa em explorar de maneira científica qualquer coisa fora de sua própria área de investigação. A existência de campos não-materiais, forças e fenômenos é um fato, mas os cientistas preferem imitar Pilatos, recusando-se a examiná-los imparcialmente, por medo de que sua visão materialista possa ser perturbada. Essa abjuração na busca pela verdade, a contestação dogmática ou fanática das dimensões da existência que os cientistas não conhecem e não querem conhecer, resultou na cura da enfermidade (pelo menos em alguma extensão), mas matando o paciente - sendo a enfermidade o dogmatismo das igrejas; e o paciente, o espírito e o impulso religioso.
A educação científica tem desprezado os mais profundos e sutis aspectos da existência, desconsiderando a vida, seus valores, propósitos e sentido e favorecendo os bens do progresso - isto é, o sucesso, o dinheiro e os prazeres. O deplorável mundo materialista e consumista atual, voltado para os prazeres, é o produto bastardo da crença de que nada existe além do que é quantificável e conhecido pela metodologia científica. A negação de sentido, propósito e valores próprios geraram atitudes de insensibilidade e crueldade improcedentes para seres humanos e milhões de animais. Graves perigos ecológicos ameaçam a Terra e seus habitantes porque o hedonismo é agora quase universalmente a filosofia preferida. O hedonismo sempre existiu. Contudo, sendo enorme a capacidade produtiva do mundo moderno, o apelo aos prazeres e às possessões é intensificado, e resistir às tentações do mercado e dos centros de diversões é muito difícil para a maioria das pessoas. A competição e o estresse envolvidos na busca destes prazeres e estilo de vida autocentrado estão constantemente explodindo em atos de frustração e violência. A ciência abriu uma caixa de Pandora, e o assim chamado "progresso" está rasgando em pedacinhos o que resta da vida civilizada.
Charles Birch, ganhador do prestigioso Prêmio Templeton, conferido a cientistas que promovem a compreensão religiosa, diz em seu livro On Purpose (New South Walles University Press, 1990). "O conceito de 'homem econômico' trata dos seres humanos como objetos, não como sujeitos. É uma visão materialista do ser humano. Seu valor é seu valor para o Produto Nacional Bruto. Seu valor é seu serviço. Se este serviço puder ser feito por uma máquina, seu valor desaparece". Casualmente Birch também cita o filósofo Whitehead que diz: "Os cientistas, animados pelo propósito de provar que eles não têm propósitos, constituem um interessante assunto para estudo". A falta de piedade e de preocupação com os seres humanos inevitavelmente se amplia em formas mais cruéis para outros seres vivos, sendo todos tratados como objetos que não possuem propósito intrínseco, não tendo direito à vida e a ser feliz. O ponto de vista moderno reduziu a dignidade de toda vida, e por promover o consumismo e a luxúria exacerbou os grandes problemas da guerra, do desperdício, da destruição do meio ambiente, da crueldade e da ganância.
Felizmente, há uma minoria de cientistas e pensadores não-convencionais que apóiam o que é chamado de ponto de vista pós-moderno - que encoraja um senso de responsabilidade e respeito pela vida - a investigação do sentido e do propósito nas manifestações da Natureza. O físico Paul Davies afirma: "O pequeno e o grande, o local e o global, o atômico e o cósmico sustentam-se mutuamente e são aspectos inseparáveis da realidade. Não se pode ter um sem o outro. A simples idéia reducionista antiga, de um Universo que simplesmente é a soma de suas partes, está completamente descartada pela física atual. Há uma unidade no Universo que vai muito além de uma simples expressão de uniformidade". (Citado por Birch em On Purpose, p. 69).
A Unidade da vida, a verdade da Totalidade é o ensinamento essencial, o cerne de todas as religiões. O Chhandogya Upanishad (111 14.1) declara: "Tudo isto (o mundo manifestado) é o Ser Eterno; do Qual tudo isto se origina, no Qual tudo desaparece e pelo Qual tudo é mantido". Sri Krishna, que no Bhagavad Gita não é um deus hindu, mas a Vida Universal, declara: "Eu sou a vida de todos os seres". Esta imanência e onipresença da divina energia Única em todo Universo é um tema que pode ser observado em todas as digressões de cada tradição religiosa. Elas todas ensinam que o puro Amor, que não pede retribuição, não favorece ninguém, é a verdade viva da unidade, citando São Paulo (Romanos 13:10): "O amor é o cumprimento da Lei".
Mas como dissemos anteriormente, ouvir palavras que expressam a verdade não é o mesmo que compreender esta verdade. As palavras são apenas mapas, e como mapas não podem trazer a experiência do território, as palavras não podem tornar-se um substituto para o conhecimento direto que é a verdade. Infelizmente a substituição continua sempre; assim as palavras fascinam a mente de tal maneira que ela cai na ilusão de que conhece o fato ou a verdade. Krishnamurti falou muitas vezes sobre a palavra não ser a coisa: a palavra "árvore" não é a árvore. Em A Primeira e Última Liberdade, ele disse sobre a Verdade e a Mentira: "Quando você ouve as palavras 'Ama o próximo', isto é uma verdade para você? Isto é verdade somente quando você ama seu próximo; e este amor não pode ser repetido, somente a palavra pode ser repetida. Ainda assim, muitos de nós ficamos felizes com a repetição de 'ama teu próximo' ou de 'não cobiçar'. Portanto, a verdade de outro ou uma experiência real que você tenha tido, não se tornam uma realidade apenas pela repetição. Pelo contrário, a repetição impede a realidade". Isto implica que a verdade não pode ser passada de um para outro. Nenhum guru pode agir como um procurador. Assim como um medicamento não pode ser tomado por um substituto, mesmo por um pai dedicado quando um filho cai doente, é insensatez acreditar que a sabedoria do guru nos curará da cegueira espiritual. Não há alternativa para a experiência direta da verdade por cada pessoa. A menos que seja conhecida intimamente, não é a verdade - mas somente uma sombra enganadora.
A verdade é o bem-estar oculto dentro do coração de cada ser. É o divino elemento invisível que ilumina nossa consciência, quando ela está na circunstância correta, com a luz da beleza, significado e reverência. O caminho para isto é obstruído por uma massa de detritos em forma de paixões, preconceitos e a insistente auto-imagem. O Viveka-Chudamani, de Sankaracharya, (verso 67), diz que um tesouro oculto não pode ser desvendado ao dizermos: "Aparece". Conhecemos sua localização por fontes confiáveis e depois assumimos o trabalho de cavar, removendo terra e pedras. Da mesma maneira, a verdade é descoberta depurando a consciência de todas as obstruções à percepção. Contudo, as religiões estabelecidas raramente encorajam esta purificação, que envolve questionamento e ponderação, e preferem estimular seus seguidores a crer cegamente no que é oficialmente declarado como verdade. Isto confere ao clero, às autoridades eclesiásticas o máximo poder sobre a mente do povo. Seu rebanho sente que não pode conhecer a verdade sem intermediários, que deve confiar nestes mediadores para a futura passagem segura em outros mundos. Como a investigação e o pensamento independente na busca pela verdade é um perigo para a estrutura do poder eclesiástico, as religiões organizadas pedem e muitas vezes reforçam a dependência, a obediência e o conformismo.
Assim, a religião e a ciência interrompem inesperadamente sua dedicação à verdade. Elas falham em seu papel declarado de promover a busca pela verdade porque isto poderia alijar tudo que se refere ao auto-interesse. Madame Blavatsky comparou as duas a dragões dos tempos antigos "um devorando o intelecto; o outro, as almas dos homens". Mais adiante ela diz "mesmo assim, elas podem reconciliar-se com a condição de que ambas devam limpar suas casas, uma das antigas escórias humanas, e a outra das excrescências terríveis do materialismo moderno".
Retornemos agora à errônea concepção de que a verdade é remota ou abstrata. É somente em nossa imaginação que isto ocorre. Para chegarmos à verdade, precisamos apenas começar de onde estamos e não imaginar que, como um astronauta, podemos chegar a alguma região estelar onde ela está entronizada. No começo, a sabedoria pode estar numa investigação das verdades que nos cercam, por exemplo, a verdade dos relacionamentos, que é um dos problemas mais sérios da sociedade humana. Devido a nossa inabilidade de compreender os relacionamentos, vivemos com guerras terríveis, crueldades, superstições, desigualdades, injustiças, pobreza e exploração. No nível pessoal há desentendimentos, medos, solidão e outras tristezas. Modificar por partes as condições externas, ou por revoluções econômicas e políticas, novas teorias, etc., nunca resultou em nada que não fosse mudança superficial e temporária. Onde está a solução? Como podemos aprender qual é o relacionamento certo, aquele que espontaneamente traz ordem à sociedade, bem como a liberdade necessária aos indivíduos para crescer moral e espiritualmente, e não somente mental e intelectualmente - um relacionamento de cooperação, amizade e confiança mútua?
Para descobrir a verdade sobre a religião ou qualquer assunto, devem ser descartados preconceitos e preferências pessoais. Esta é a abordagem científica, que é tão valiosa nesta área como o é ao investigar fatos e fenômenos materiais. Somos condicionados a ver tudo sob um ponto de vista pessoal, "meu" país, "minha" raça, "minha" religião ou "minha" classe social. A Humanidade foi descrita como um enorme corpo cujos membros guerreiam entre si. Involuntariamente nos situamos como parte de uma raça, de um país, de uma classe ou sexo; na maioria das vezes, até mesmo a religião é herdada, e não é escolhida com inteligência. Portanto, de geração em geração, preconceitos baseados em rótulos como hindu, cristão, muçulmano, alto, baixo, etc., levam a conflitos e a outras graves calamidades. Somente uma mente investigadora pode livrar-se destas limitações da mente pessoal e perceber que o progresso humano é essencialmente um crescimento da compreensão dos valores que harmonizam e unificam. Ser verdadeiramente religioso significa aprender a ser uno com todas as coisas vivas, e a incorporar valores como bondade e compaixão, simplicidade e desapego, ausência de orgulho e vaidade. O profeta Maomé ensinou que "a benevolência e a cortesia são atos de piedade" (Sayings of Muhammad, Dr. Suhrwardy, 1905, p. 4). Quando crenças, rituais e práticas que separam as pessoas não são identificadas com a religião e são deixadas de lado, a paz se torna uma realidade maior.
A investigação objetiva da natureza dos relacionamentos também nos faz compreender que a mente tem uma forte tendência a fugir de responsabilidades. A maioria de nós denuncia imediatamente os erros do outro quando um relacionamento se deteriora. Gostamos de fingir que a causa da desarmonia está fora de nós, na maneira como o outro se comporta, ou nas circunstâncias externas. Um exemplo nos dado de uma pessoa que caminhava sob um sol calcinante numa colina rochosa, tentando a cada passo cobrir as pedras para evitar o calor abrasador, até que alguém lhe disse que seria mais fácil proteger seus próprios pés. Observação imparcial significa olhar para si mesmo honestamente para observar como opera a mente - seu orgulho, seu amor por bens e poder, sua insensibilidade - que são como cancros que envenenam os relacionamentos. A harmonia surge quando a mente se liberta destas desordens internas. O mundo inteiro mudaria se as pessoas compreendessem a importância de descobrir a verdade sobre si.
Na Natureza há uma maravilhosa diversidade de formas, funções e características. Esta diversidade é enriquecedora. Seria agradável vermos apenas um tipo de árvore sobre a Terra, ou apenas uma espécie de pássaro ou animal? Ainda assim reagimos como se as diferenças no cuidado, caráter e na aparência de outras pessoas significassem uma ofensa, e em nossas próprias mentes estamos esperando conformismo aos padrões estabelecidos. A falta de sensibilidade e abertura para o que existe, as resistências que construímos, afastam-nos da beleza e do mistério da vida, que foi experienciado não somente por místicos, poetas e artistas em seus momentos de percepção intensificada, mas também por cientistas, quando seu único objetivo era encontrar a verdade. Heisenberg escreveu uma carta: "O terreno total dos inter-relacionamentos na teoria atômica está súbita e claramente exposto ante meus olhos ... surge. Nem mesmo Platão poderia acreditar que fosse tão belo. Porque estes inter-relacionamentos não podem ser inventados; eles estão ali desde a criação". (Citado por S. Chandrasekhar em Truth and Beauty, Penguin, 1991, p.22). Numa ocasião Heisenberg sorrindo, disse a sua esposa: "Fiquei muito feliz por observar sobre o ombro do bom Deus enquanto ele trabalhava".
Todo o Universo é ordem e alegria, significado e propósito. Talvez não saibamos que coisas divinas e maravilhosas perdemos por nos fecharmos em nós mesmos, em nossas próprias opiniões, preferências e aversões, em vez de mantermos aberta a mente para a verdade que aguarda revelar-se em todo lugar, tanto na minúscula partícula como no Todo. Finalizo com as linhas de Edmund Holmes (do The Oxford Book of English Mystical Verse):
"Respiro o alento da manhã. Estou unido à Alma-Mundo.
Não vivo mais minha vida, mas a vida do Todo existente".
Tradução: Izar G. Tauceda - Loja Jehoshua, Porto Alegre - RS.
Qual é o propósito de nossas vidas? É simplesmente comer, dormir, divertir-se, procriar, lutar e morrer? Se for assim, dificilmente é humano, porque todas as criaturas inferiores fazem o mesmo. Elas vivem despreocupadamente e agem de acordo com os desígnios da Natureza, e o fazem com inocência, graça e beleza. Os seres humanos, vivendo este tipo de vida fisicamente centrada e agindo conscientemente por motivos egoístas, dando manifestação organizada a sua crueldade e cobiça, poluem a Terra com o mal e introduzem um elemento de feiúra nas operações da Natureza. Diz-se que o mal existe somente no nível da mente humana, porque reconhecidamente é aí que o dano é feito, e o egoísmo praticado obstinadamente.
Infelizmente poucas pessoas ponderam sobre o propósito de suas próprias vidas e da vida em geral. Muitos homens e mulheres vivem mecânica e irrefletidamente, simplesmente se adaptando aos propósitos e sistemas de seu ambiente, tornando o prazer físico e a satisfação egoísta o centro de suas atividades. As religiões e os livros sagrados têm tentado chamar a atenção para os propósitos mais profundos da vida, mas de uma maneira tão confusa que o seu impacto termina sendo muito vago. Os dogmas, as injunções e tradições em diversos assuntos irrelevantes à essência das questões da vida religiosa estão misturados com os conselhos sobre a vida superior. Neste caso, uma coisa é receber conselho em tais assuntos, e outra é investigar seriamente por si mesmo o sentido e o propósito da vida.
A qualidade da vida de uma pessoa muda quando o impulso para conhecer a verdade é sentido profundamente. Por milênios não houve mudança essencial na sociedade, porque geralmente as pessoas ouvem apenas mecanicamente os ensinamentos religiosos. As condições externas mudaram, mas não mudou o psiquismo da Humanidade, com suas cobiças, seus rancores, apegos e agressões. Pois para haver mudança, a vida dos sentidos e a busca por excitamentos mentais deve realmente morrer e ser substituída por um anseio de compreender e descobrir em primeira mão a verdade sobre a vida. O singelo poema de William Blake de Canções de Inocência nos desperta para as perguntas pelas quais cada forma de vida nos confronta:
Cordeirinho, quem te fez?
Conheces quem te fez?
Quem te deu vida e mandou alimento,
Pelo córrego e pelo prado;
Quem te deu roupas de beleza.
Roupas muito suaves, claras e quentes;
Quem te deu esta voz terna
Que faz os vales todos exultarem?
Cordeirinho, quem te fez?
Conheces quem te fez?
Da mesma forma, referindo-se ao tigre feroz, Blake pergunta: "Aquele que fez o cordeiro, também te fez?" (Canções de Experiência).
Por incontáveis meios a Natureza exibe milagres a cada minuto. Cada criatura, grande ou pequena, é provida do que necessita, da lã para mantê-la quente, ou da habilidade para construir um ninho. E fácil desconsiderar as miríades de maravilhas do corpo e da mente, atribuindo tudo aos genes. Mas como os genes tornaram-se tão inteligentes? Há uma inteligência universal, um supremo amor trabalhando, moldando e movimentando todas as coisas em direção a um fim maior?
Visto que a mente humana é capaz de elaborar estas perguntas, devemos considerá-las seriamente ao respondê-las. Devemos ser compelidos interiormente a indagar por que idéias de justiça, beleza e verdade têm tido importância na cultura e consciência humanas, mesmo que não tenham nada a ver com a luta pela sobrevivência, que é dito caracterizar o processo de evolução. Em todas as épocas, homens e mulheres sofreram torturas por dedicarem suas vidas à verdade. Por que estes poucos destemidos em sua lealdade à verdade, os que trilharam a senda da honradez ou trouxeram informações de uma beleza transcendental a este mundo são respeitados acima do resto da Humanidade, mesmo por aqueles que egoisticamente buscam seus próprios fins? Certamente porque apesar das pressões às quais foram submetidos, as pessoas compreendem, pelas vidas das almas puras e nobres, que a verdade tem um poder transformador. Disse Jesus, em João 8:32 "Vocês conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará..."
Satyât nâsti paro Dharma "Não há religião superior à verdade" era o antigo lema da família de Kasi, ou Varanasi, também escolhido por seus fundadores como lema da Sociedade Teosófica. Isto sugere que o genuíno progresso está relacionado com a busca da verdade. A busca de objetivos menores, principalmente de riqueza e prazer, Artha e Kama, embora compreensíveis e aceitáveis, quando dentro de limites razoáveis, com uma noção de responsabilidade social ou Dharma - resultam na degeneração do mundo, que é o que estamos testemunhando. Somente pela descoberta do mais profundo significado da vida e do propósito cósmico subjacente no mundo manifestado, pode a natureza humana elevar-se a sua destinada dignidade.
O que é a verdade? A maioria das pessoas acredita que a verdade é tão abstrata e remota que não pode ser uma preocupação séria para a média das pessoas. Sob este ponto de vista, o assunto é mais bem tratado por filósofos e especialistas. Como escreveu Francis Bacon: "O que é a verdade? disse ao imitar Pilatos, e não esperando uma resposta." (Ensaio Sobre a Verdade) Isto é o que as pessoas gostam de fazer - afastar-se do debate. Mesmo assim, aprender a contestar é de importância suprema para a Humanidade, e está intimamente ligado ao fato de tratar com sabedoria os problemas e as obrigações diárias. A clássica metáfora da cobra e da corda ensina que o pensamento e a ação mudam completamente de acordo com o que a pessoa vê. Aceitamos como verdadeiro o que conhecemos e vemos, mas não inquirimos se realmente vemos e conhecemos o que existe. Mesmo a forma material, a estrutura e a substância dos objetos que nos cercam, não é o que pensamos que seja, porque nossos sentidos têm grandes limitações. Ainda assim, rapidamente fazemos julgamentos e pensamos conhecer a verdade das coisas. A enfermidade da certeza domina nossas mentes, e logo se torna dogmatismo, fanatismo e intolerância.
O dogmatismo e autoritarismo das igrejas começam a desintegrar-se com o desenvolvimento da ciência, cujo objetivo é a verdade. O desenvolvimento científico depende da não submissão a uma autoridade final - Newton, Einstein ou outro - e o não se aferrar dogmaticamente a qualquer ponto de vista. O trabalho científico é baseado em observação imparcial, repetidos testes e experimentos, pensamento objetivo (impessoal) e vontade de revisar cada teoria à luz de fatos e observações novas. Esta atitude é imprescindível para o progresso - não apenas no campo material, mas para a investigação da verdade em qualquer nível.
Infelizmente, a comunidade científica tem se mostrado cautelosa em explorar de maneira científica qualquer coisa fora de sua própria área de investigação. A existência de campos não-materiais, forças e fenômenos é um fato, mas os cientistas preferem imitar Pilatos, recusando-se a examiná-los imparcialmente, por medo de que sua visão materialista possa ser perturbada. Essa abjuração na busca pela verdade, a contestação dogmática ou fanática das dimensões da existência que os cientistas não conhecem e não querem conhecer, resultou na cura da enfermidade (pelo menos em alguma extensão), mas matando o paciente - sendo a enfermidade o dogmatismo das igrejas; e o paciente, o espírito e o impulso religioso.
A educação científica tem desprezado os mais profundos e sutis aspectos da existência, desconsiderando a vida, seus valores, propósitos e sentido e favorecendo os bens do progresso - isto é, o sucesso, o dinheiro e os prazeres. O deplorável mundo materialista e consumista atual, voltado para os prazeres, é o produto bastardo da crença de que nada existe além do que é quantificável e conhecido pela metodologia científica. A negação de sentido, propósito e valores próprios geraram atitudes de insensibilidade e crueldade improcedentes para seres humanos e milhões de animais. Graves perigos ecológicos ameaçam a Terra e seus habitantes porque o hedonismo é agora quase universalmente a filosofia preferida. O hedonismo sempre existiu. Contudo, sendo enorme a capacidade produtiva do mundo moderno, o apelo aos prazeres e às possessões é intensificado, e resistir às tentações do mercado e dos centros de diversões é muito difícil para a maioria das pessoas. A competição e o estresse envolvidos na busca destes prazeres e estilo de vida autocentrado estão constantemente explodindo em atos de frustração e violência. A ciência abriu uma caixa de Pandora, e o assim chamado "progresso" está rasgando em pedacinhos o que resta da vida civilizada.
Charles Birch, ganhador do prestigioso Prêmio Templeton, conferido a cientistas que promovem a compreensão religiosa, diz em seu livro On Purpose (New South Walles University Press, 1990). "O conceito de 'homem econômico' trata dos seres humanos como objetos, não como sujeitos. É uma visão materialista do ser humano. Seu valor é seu valor para o Produto Nacional Bruto. Seu valor é seu serviço. Se este serviço puder ser feito por uma máquina, seu valor desaparece". Casualmente Birch também cita o filósofo Whitehead que diz: "Os cientistas, animados pelo propósito de provar que eles não têm propósitos, constituem um interessante assunto para estudo". A falta de piedade e de preocupação com os seres humanos inevitavelmente se amplia em formas mais cruéis para outros seres vivos, sendo todos tratados como objetos que não possuem propósito intrínseco, não tendo direito à vida e a ser feliz. O ponto de vista moderno reduziu a dignidade de toda vida, e por promover o consumismo e a luxúria exacerbou os grandes problemas da guerra, do desperdício, da destruição do meio ambiente, da crueldade e da ganância.
Felizmente, há uma minoria de cientistas e pensadores não-convencionais que apóiam o que é chamado de ponto de vista pós-moderno - que encoraja um senso de responsabilidade e respeito pela vida - a investigação do sentido e do propósito nas manifestações da Natureza. O físico Paul Davies afirma: "O pequeno e o grande, o local e o global, o atômico e o cósmico sustentam-se mutuamente e são aspectos inseparáveis da realidade. Não se pode ter um sem o outro. A simples idéia reducionista antiga, de um Universo que simplesmente é a soma de suas partes, está completamente descartada pela física atual. Há uma unidade no Universo que vai muito além de uma simples expressão de uniformidade". (Citado por Birch em On Purpose, p. 69).
A Unidade da vida, a verdade da Totalidade é o ensinamento essencial, o cerne de todas as religiões. O Chhandogya Upanishad (111 14.1) declara: "Tudo isto (o mundo manifestado) é o Ser Eterno; do Qual tudo isto se origina, no Qual tudo desaparece e pelo Qual tudo é mantido". Sri Krishna, que no Bhagavad Gita não é um deus hindu, mas a Vida Universal, declara: "Eu sou a vida de todos os seres". Esta imanência e onipresença da divina energia Única em todo Universo é um tema que pode ser observado em todas as digressões de cada tradição religiosa. Elas todas ensinam que o puro Amor, que não pede retribuição, não favorece ninguém, é a verdade viva da unidade, citando São Paulo (Romanos 13:10): "O amor é o cumprimento da Lei".
Mas como dissemos anteriormente, ouvir palavras que expressam a verdade não é o mesmo que compreender esta verdade. As palavras são apenas mapas, e como mapas não podem trazer a experiência do território, as palavras não podem tornar-se um substituto para o conhecimento direto que é a verdade. Infelizmente a substituição continua sempre; assim as palavras fascinam a mente de tal maneira que ela cai na ilusão de que conhece o fato ou a verdade. Krishnamurti falou muitas vezes sobre a palavra não ser a coisa: a palavra "árvore" não é a árvore. Em A Primeira e Última Liberdade, ele disse sobre a Verdade e a Mentira: "Quando você ouve as palavras 'Ama o próximo', isto é uma verdade para você? Isto é verdade somente quando você ama seu próximo; e este amor não pode ser repetido, somente a palavra pode ser repetida. Ainda assim, muitos de nós ficamos felizes com a repetição de 'ama teu próximo' ou de 'não cobiçar'. Portanto, a verdade de outro ou uma experiência real que você tenha tido, não se tornam uma realidade apenas pela repetição. Pelo contrário, a repetição impede a realidade". Isto implica que a verdade não pode ser passada de um para outro. Nenhum guru pode agir como um procurador. Assim como um medicamento não pode ser tomado por um substituto, mesmo por um pai dedicado quando um filho cai doente, é insensatez acreditar que a sabedoria do guru nos curará da cegueira espiritual. Não há alternativa para a experiência direta da verdade por cada pessoa. A menos que seja conhecida intimamente, não é a verdade - mas somente uma sombra enganadora.
A verdade é o bem-estar oculto dentro do coração de cada ser. É o divino elemento invisível que ilumina nossa consciência, quando ela está na circunstância correta, com a luz da beleza, significado e reverência. O caminho para isto é obstruído por uma massa de detritos em forma de paixões, preconceitos e a insistente auto-imagem. O Viveka-Chudamani, de Sankaracharya, (verso 67), diz que um tesouro oculto não pode ser desvendado ao dizermos: "Aparece". Conhecemos sua localização por fontes confiáveis e depois assumimos o trabalho de cavar, removendo terra e pedras. Da mesma maneira, a verdade é descoberta depurando a consciência de todas as obstruções à percepção. Contudo, as religiões estabelecidas raramente encorajam esta purificação, que envolve questionamento e ponderação, e preferem estimular seus seguidores a crer cegamente no que é oficialmente declarado como verdade. Isto confere ao clero, às autoridades eclesiásticas o máximo poder sobre a mente do povo. Seu rebanho sente que não pode conhecer a verdade sem intermediários, que deve confiar nestes mediadores para a futura passagem segura em outros mundos. Como a investigação e o pensamento independente na busca pela verdade é um perigo para a estrutura do poder eclesiástico, as religiões organizadas pedem e muitas vezes reforçam a dependência, a obediência e o conformismo.
Assim, a religião e a ciência interrompem inesperadamente sua dedicação à verdade. Elas falham em seu papel declarado de promover a busca pela verdade porque isto poderia alijar tudo que se refere ao auto-interesse. Madame Blavatsky comparou as duas a dragões dos tempos antigos "um devorando o intelecto; o outro, as almas dos homens". Mais adiante ela diz "mesmo assim, elas podem reconciliar-se com a condição de que ambas devam limpar suas casas, uma das antigas escórias humanas, e a outra das excrescências terríveis do materialismo moderno".
Retornemos agora à errônea concepção de que a verdade é remota ou abstrata. É somente em nossa imaginação que isto ocorre. Para chegarmos à verdade, precisamos apenas começar de onde estamos e não imaginar que, como um astronauta, podemos chegar a alguma região estelar onde ela está entronizada. No começo, a sabedoria pode estar numa investigação das verdades que nos cercam, por exemplo, a verdade dos relacionamentos, que é um dos problemas mais sérios da sociedade humana. Devido a nossa inabilidade de compreender os relacionamentos, vivemos com guerras terríveis, crueldades, superstições, desigualdades, injustiças, pobreza e exploração. No nível pessoal há desentendimentos, medos, solidão e outras tristezas. Modificar por partes as condições externas, ou por revoluções econômicas e políticas, novas teorias, etc., nunca resultou em nada que não fosse mudança superficial e temporária. Onde está a solução? Como podemos aprender qual é o relacionamento certo, aquele que espontaneamente traz ordem à sociedade, bem como a liberdade necessária aos indivíduos para crescer moral e espiritualmente, e não somente mental e intelectualmente - um relacionamento de cooperação, amizade e confiança mútua?
Para descobrir a verdade sobre a religião ou qualquer assunto, devem ser descartados preconceitos e preferências pessoais. Esta é a abordagem científica, que é tão valiosa nesta área como o é ao investigar fatos e fenômenos materiais. Somos condicionados a ver tudo sob um ponto de vista pessoal, "meu" país, "minha" raça, "minha" religião ou "minha" classe social. A Humanidade foi descrita como um enorme corpo cujos membros guerreiam entre si. Involuntariamente nos situamos como parte de uma raça, de um país, de uma classe ou sexo; na maioria das vezes, até mesmo a religião é herdada, e não é escolhida com inteligência. Portanto, de geração em geração, preconceitos baseados em rótulos como hindu, cristão, muçulmano, alto, baixo, etc., levam a conflitos e a outras graves calamidades. Somente uma mente investigadora pode livrar-se destas limitações da mente pessoal e perceber que o progresso humano é essencialmente um crescimento da compreensão dos valores que harmonizam e unificam. Ser verdadeiramente religioso significa aprender a ser uno com todas as coisas vivas, e a incorporar valores como bondade e compaixão, simplicidade e desapego, ausência de orgulho e vaidade. O profeta Maomé ensinou que "a benevolência e a cortesia são atos de piedade" (Sayings of Muhammad, Dr. Suhrwardy, 1905, p. 4). Quando crenças, rituais e práticas que separam as pessoas não são identificadas com a religião e são deixadas de lado, a paz se torna uma realidade maior.
A investigação objetiva da natureza dos relacionamentos também nos faz compreender que a mente tem uma forte tendência a fugir de responsabilidades. A maioria de nós denuncia imediatamente os erros do outro quando um relacionamento se deteriora. Gostamos de fingir que a causa da desarmonia está fora de nós, na maneira como o outro se comporta, ou nas circunstâncias externas. Um exemplo nos dado de uma pessoa que caminhava sob um sol calcinante numa colina rochosa, tentando a cada passo cobrir as pedras para evitar o calor abrasador, até que alguém lhe disse que seria mais fácil proteger seus próprios pés. Observação imparcial significa olhar para si mesmo honestamente para observar como opera a mente - seu orgulho, seu amor por bens e poder, sua insensibilidade - que são como cancros que envenenam os relacionamentos. A harmonia surge quando a mente se liberta destas desordens internas. O mundo inteiro mudaria se as pessoas compreendessem a importância de descobrir a verdade sobre si.
Na Natureza há uma maravilhosa diversidade de formas, funções e características. Esta diversidade é enriquecedora. Seria agradável vermos apenas um tipo de árvore sobre a Terra, ou apenas uma espécie de pássaro ou animal? Ainda assim reagimos como se as diferenças no cuidado, caráter e na aparência de outras pessoas significassem uma ofensa, e em nossas próprias mentes estamos esperando conformismo aos padrões estabelecidos. A falta de sensibilidade e abertura para o que existe, as resistências que construímos, afastam-nos da beleza e do mistério da vida, que foi experienciado não somente por místicos, poetas e artistas em seus momentos de percepção intensificada, mas também por cientistas, quando seu único objetivo era encontrar a verdade. Heisenberg escreveu uma carta: "O terreno total dos inter-relacionamentos na teoria atômica está súbita e claramente exposto ante meus olhos ... surge. Nem mesmo Platão poderia acreditar que fosse tão belo. Porque estes inter-relacionamentos não podem ser inventados; eles estão ali desde a criação". (Citado por S. Chandrasekhar em Truth and Beauty, Penguin, 1991, p.22). Numa ocasião Heisenberg sorrindo, disse a sua esposa: "Fiquei muito feliz por observar sobre o ombro do bom Deus enquanto ele trabalhava".
Todo o Universo é ordem e alegria, significado e propósito. Talvez não saibamos que coisas divinas e maravilhosas perdemos por nos fecharmos em nós mesmos, em nossas próprias opiniões, preferências e aversões, em vez de mantermos aberta a mente para a verdade que aguarda revelar-se em todo lugar, tanto na minúscula partícula como no Todo. Finalizo com as linhas de Edmund Holmes (do The Oxford Book of English Mystical Verse):
"Respiro o alento da manhã. Estou unido à Alma-Mundo.
Não vivo mais minha vida, mas a vida do Todo existente".
Tradução: Izar G. Tauceda - Loja Jehoshua, Porto Alegre - RS.