A pobreza de relação com a morte é
consequência da pobreza da relação com a nossa própria Alma.
A nossa atual concepção de morte é filha
desta ausência de amor que caracteriza a vida na Terra, assunto difícil de
analisar, pois é praticamente impossível fazer uma genealogia do ódio e da
indiferença, a sua origem perde-se na noite dos tempos, origem que não se deve
apenas a fatores instintivos ou de sobrevivência.
Para que futuros "facilitadores de transição
“se formem, primeiro terão que conquistar, dentro de si mesmos, o medo e a
ansiedade em relação a morte.
A morte na forma em que nos é transmitida
pelos Mass-media, torna-se algo sem honra, sem rosto, sem biografia, um evento
grotesco e obsceno, muitas vezes violento e completamente devorado por enquadramentos
políticos, militares, sanitários e estatísticos.
A continua propagação deste mito da comunicação,
a morte sem rosto e sem honra, vai fazendo com que as pessoas, perigosamente,
se habituem a morte pelo lado oposto, aceitem a morte disfuncional como um dado
normal da existência.
Nas culturas tradicionais a morte é algo
totalmente quente, existe uma proximidade e uma textura humana na relação com a
morte.
Quando o chefe índio diz ao seu neto;
"hoje está um lindo dia para morrer ", percebemos como a relação com
a morte está nos antípodas da morte como é apresentada pelos Mass-media e pelo
novo-riquíssimo cultural pós-moderno, que tem coragem total perante o desmontar
de todos os ismos e estilos, e no entanto nada concebe de real para além da
vida da mente.
Obviamente, o chefe índio pratica a morte
consciente.
Ao longo da vida, conscientemente aprendeu
a sair e entrar no corpo, aprendeu, de uma forma gradual, a desligar certos
centros que permitem a elevação dos seus veículos sutis acima do físico e depois
a pousar de novo os veículos sutis no físico; este chefe índio, este chefe
esquimó, este Xamã, este monge franciscano, este sacerdote cristão, todos
conhecem profundamente esta prática, tal como os Cátaros que praticam esse
processo de elevação acima do corpo e de retorno, aquilo a que hoje chamaríamos
uma meditação de abstração.
Quando esta prática, de mergulhar nos
níveis internos do ser, se torna um hábito, firmado na consciência, e
percebemos que do mecanismo de certos tipos de meditação é comparável ao
processo da morte, então o chefe índio, o monge, o místico ocidental, no
momento em que a sua centelha divina dá a ordem; "este é o momento de
partir …. Ele simplesmente, ""permite “e acompanha o processo de ser
guindado para além do corpo, pelo impulso ascendente do seu Espírito.
Este processo de morte consciente
liberta-nos das regiões astral e mental e leva-nos diretamente para o nível
causal, o nível intuitivo superior da esfera planetária.
Na morte inconsciente o indivíduo pode
entrar num caso intermédio em que é bombardeado de influências de mundos que
são estranhos e confusos para ele; entra no que no budismo Tibetano se chama
"os primeiros níveis de bardo" são regiões eminentemente
desorientadas e poluem o canal entre o ser e a sua Alma.
A morte consciente, no entanto, eleva o
ser além do plano astral e mental, estabilizando-o, já sem corpo físico,
emocional ou mental, nos planos luminosos da paz perene.
As pessoas não estão tendo um processo de
refinamento da consciência que lhes permite viver com reverência, com ritual.
Os Mass-media funcionam por injeções de adrenalina que mantém as pessoas
alienadas e hipnóticas, frente a televisão.
A forma como a morte nos é apresentada
pelos Mass-media, polui a compreensão do "portal da morte", fazendo
com que o portal se transforme em algo temível, redespertando o cérebro
reptiliano com as memorias genéticas ancestrais em que o homem luta para
sobreviver, e nada mais.
O cérebro reptiliano, tem memórias muito
fortes em relação a morte compulsiva, feras, guerras, invasões entre tribos,
doenças, frio, ..........
Sempre que somos expostos a processos de
morte que não contém elevação do espirito, o cérebro reptiliano é, logicamente
confirmado. Além disso quanto maior for a distância que em vida alimentarmos
para com as esferas superiores maior será o medo e a perplexidade perante a
morte, ou perante qualquer evento ou fato que não possa ser abordado com a
mente concreta ou com o senso objetivo da matéria, espaço e tempo.
O medo e a ansiedade vão aumentando e os
núcleos densos que nos prendem ao passado ancestral da espécie, vão acentuando
uma percepção distorcida da morte. Tornamo-nos anacrônicos em nós mesmos.
Para compreendermos a morte como um
processo de transito entre dimensões, sem descontinuidades, sem impasses, sem
conflito mas como uma continuidade natural da própria onda que deu origem a
nossa vida atual para que não nos atrapalhemos nas passagens entre dimensões,
teríamos que compreender a concepção da vida e o nascimento de uma criança de
uma forma igualmente profunda.
Quanto mais profunda for a compreensão da
forma como o Cosmos entrega uma nova semente de Luz a Terra, mais continua e
estruturada será a nossa percepção da morte. Porque o nascimento e a morte são
o mesmo processo, em sentido inverso.
Se o nascimento está sujeito a "lei
da limitação", a morte é uma expressão da lei oposta a "lei da
libertação", estas leis complementam-se.
A" lei da limitação" afirma que
a Vida se autolimita para se exprimir numa dimensão inferior, "A lei da
libertação" diz que cumprindo uma etapa de expressão, a vida se expande
para ir de novo ao encontro da sua origem.
Uma criança que corre para mim e me pede
para andar de balanço, domingo de manhã no parque, enquanto o Sol ilumina toda
uma catedral de árvores, constitui uma experiência de beleza e harmonia.
As mesmas leis, os mesmos deuses criadores
que esculpiram para nós esses fatos de alegria e plenitude, estão presentes no
momento da morte. A ordem é a mesma, a beleza e o ritual são os mesmos.
Se sou capaz de me espantar ou mesmo
maravilhar, com os pequenos e grandes rituais da vida, o ritual da morte não é
exceção, e exatamente filho dos mesmos operadores que geram tudo o mais a vida,
o nascimento, a reprodução, a criança ......
As leis são as mesmas, o AUTOR é o mesmo,
e sempre ELE, o DIVINO.
Se pudermos sentir o amor que deveria
estar presente no momento da concepção, o amor que está presente no momento do
nascimento e o amor que está presente no momento da morte, começamos a ter uma
relação muito mais sutil e profunda com esse ciclo final da nossa existência
física.
Se pudermos perceber o ritual de passagem
entre dimensões como a resposta do nosso ser oculto ao seu Criador, começamos a
acessar a dimensão Oração e Meditação da morte. Oração no sentido
etimológico de abertura e meditação como estar no meio.
É necessário compreender, finalmente, que
o momento em que o ser é aspirado para fora do corpo é um momento de Amor,
e nada menos.
Assim vários fatores contribuem para
transmutar a densidade psíquica em torno da morte:
-A morte é simplesmente o nascimento em sequência
invertida, um ritual de retorno a Luz;
-A morte é um ritual totalmente ordenado,
opondo-se, em beleza e propósito, ao fatalismo, absurdo e amargura que
acompanham eventos considerados erráticos, incompreensíveis ou aberrantes;
-A qualidade da nossa vida é uma
distanciação sábia, mas sensível, em relação ao mundo definem a qualidade da
nossa morte;
-A morte é o retorno da Vida a Vida, da
Luz a Luz;
-A morte significa a passagem da lei
limitação para a lei da libertação;
-A morte resulta do chamado atrator da
Alma e do Espirito sobre o Ser Psíquico, um chamado de AMOR.
-É desejável que as famílias desenvolvam a
capacidade de amar e acompanhar com amor todo o processo do ser que está a
mudar de dimensão, com proximidade e ternura acompanhada por uma percepção mais
exata da sequência do desencarnar, sabendo que, no processo da morte, o Amor
está atuando continuamente;
-Na ausência da família irão surgir neste
planeta ambientes que propiciam o processo de desencarnar, tal como há
ambientes para o processo de encarnar;
-A morte é um mergulho na paz.
Para compreender o processo da morte, é
preciso distinguir três esferas básicas: a esfera material, a esfera sutil, e
além do mundo sutil, a esfera ardente, espiritual, eterna.
É a Mônada e nada abaixo dela, que dá a
ordem real para que o indivíduo desencarne. Em um ser que vive simplesmente uma
vida de boa-vontade, a Mônada toca a sua consciência de forma direta apenas em
raros momentos; são as experiências de pico na nossa vida.
O Seu poder (Mônada) é imenso sobre a
personalidade humana; ninguém desencarna sem que a Mônada tenha dado ordem,
exceto em situações de homicídio ou suicídio .O que se passa no suicídio é um
território muito secreto, traumático e complexo do comportamento humano, e o
que o eu consciente interferiu em leis monádicas, isto é, a esfera do eu
consciente fez um ato que se substituiu a esfera ardente do Ser, o que faz com
que todo o ritual do desencarne seja profundamente comprometido e de alguma
forma danificado. O que caracteriza o suicídio e o homicídio é a ausência de um
ritual ordenado por DEUS, uma ruptura extrema do caos.